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Comerciante gasta R$ 800 por mês em gelo para armazenar produtos em comunidade que não tem luz elétrica no litoral do Paraná

Comunidades do litoral ainda não têm energia elétrica Morador do litoral do Paraná, o comerciante Durval Martins gasta cerca de R$ 800 todos os meses para c...

Comerciante gasta R$ 800 por mês em gelo para armazenar produtos em comunidade que não tem luz elétrica no litoral do Paraná
Comerciante gasta R$ 800 por mês em gelo para armazenar produtos em comunidade que não tem luz elétrica no litoral do Paraná (Foto: Reprodução)

Comunidades do litoral ainda não têm energia elétrica Morador do litoral do Paraná, o comerciante Durval Martins gasta cerca de R$ 800 todos os meses para comprar gelo para conseguir armazenar os produtos que vende. No comércio, ele mantém freezers, balança, lâmpada. Porém, o uso é restrito: ele mora na comunidade de Nova Fátima, em Guaraqueçaba, no litoral do Paraná, onde não há instalação de energia elétrica. "O gerador que eu tenho não dá. Parou de funcionar por causa do desgaste. Não aguentava, né? Não tem como", diz o comerciante. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 PR no WhatsApp Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que 10 mil pessoas que moram no Paraná ainda não têm acesso à energia elétrica. Parte delas vive em oito comunidades do litoral do estado, na Baía dos Pinheiros. Durante quatro anos, pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) visitaram essas comunidades e entrevistaram cerca de 650 famílias para fazer um diagnóstico do problema. "O que mais me chamou a atenção nesses quatro anos foi o abandono que essas comunidades têm perante o poder público, a começar pela energia elétrica", detalha o geógrafo e pesquisador Eduardo Vedor. Durval Martins gasta cerca de R$ 800 todos os meses comprar gelo para conseguir armazenar os produtos que vende Maycon Hoffmann/RPC LEIA TAMBÉM: Prisão: Segurança terceirizado é preso por tentar vender por R$ 5 mil imagens do momento da explosão em fábrica Entenda: Tremor de terra é registrado em Ponta Grossa 'Entrega especial': Pizzaria desconfia de golpe no pagamento de pedido e manda polícia junto com funcionário para entrega Quatro horas de distância do hospital mais próximo Segundo IBGE, 10 mil pessoas que moram no Paraná ainda não têm acesso à energia elétrica. Maycon Hoffmann/RPC A ausência de energia elétrica reflete diretamente na falta de infraestrutura para a população dessas comunidades. Da estrutura de uma escola, só resta a parede parcialmente destruída. Ao lado, há um imóvel que um dia já abrigou um posto de saúde, mas que agora está desativado. Em caso de necessidade, os moradores precisam pegar um barco e ir até o hospital mais próximo, que fica quatro horas de distância. "Parece que estamos vivendo nos anos 50, lá na época dos meus pais e dos meus avôs. É muito humilhante a gente, no século XXI, viver essa injustiça. Para nós, é uma injustiça", desabafa Odair José, presidente da Associação de Moradores de Barbados. Na casa do pescador Marciano José Martins o gerador é usado somente em situações de emergências, como ligar o inalador para o filho dele, que tem bronquite. O pescador improvisou pequenas placas solares no telhado de casa, mas que não funcionam para um banho quente, por exemplo. Para isso, a família precisa esquentar água no fogo. "Para ligar o gerador eu gasto diesel. A gente tem gasto. É diesel para pescar, diesel para levar peixe, buscar gelo... Aí para gastar mais dinheiro em diesel para gerador, você não aguenta. O que você ganha é pouco, aqui a renda é pouca, de pescaria", explica. A dois quilômetros dali, a eletricidade Em outra comunidade do litoral, energia foi instalada em 2013 com um sistema de cabos subaquáticos Maycon Hoffmann/RPC Do outro lado da baía, a cerca de dois quilômetros do povoado, a energia eletricidade já é uma realidade. Na comunidade vizinha, a energia foi instalada em 2013 com um sistema de cabos subaquáticos. Enquanto isso, naquelas em que não há eletricidade, os moradores tentam improvisar com baterias de carros, que muitas vezes só dão conta da iluminação das casas. "A gente faz o que pode, né? A gente não consegue uma iluminação, mas a gente também não pode não ter uma situação melhor para a família da gente, então a gente corre fazer gambiarra. Faz uma gambiarra aqui, uma bateria, pega uma lâmpada ali, coloca, funciona um dia, dois... E é o que a gente pode fazer, né? Ultimamente é o que a gente tá podendo fazer", afirma o pescador Gerson Malaquias. Moradores improvisam energia elétrica a partir de baterias de carros Maycon Hoffmann/RPC Novas funções Na casa da dona Tereza, há uma geladeira, um liquidificador, uma televisão. Porém, os eletrodomésticos ganharam uma nova atribuição, já que não funcionam sem energia. A geladeira, por exemplo, é usada como dispensa para guardar alimentos secos, como café, achocolatado e açúcar. "A gente compra porque tem vontade de ter, mas não consegue usar", afirma. No local, os eletrodomésticos representam um pequeno sinal de esperança, de que um dia o que é o básico chegue até a comunidade. Dona Tereza usa geladeira como armário Maycon Hoffmann/RPC Moradores cobram as autoridades A falta de energia não se dá por falta da cobrança dos moradores às autoridades. No Paraná, a Companhia Paranaense de Energia (Copel) é a responsável pela geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. "Eu sou mais conhecido do que nota de R$ 1 dentro da Copel", brinca o pescador Gerson Malaquias. O pescador Gerson Malaquias cobra Copel há anos pela instalação de energia elétrica no povoado onde vive Maycon Hoffmann/RPC Entre 2010 e 2012, a companhia instalou painéis solares nas casas das comunidades onde os cabos de energia não chegaram. Porém, segundo os moradores, os equipamentos não eram suficientes para fazer com que eletrodomésticos como freezers e geladeiras funcionassem. Com isso, o uso dos painéis foi descontinuado. Depois disso, os moradores esperavam que a energia elétrica chegasse por meio de cabos, como em outras ilhas. Painéis solares foram instalados em casas da comunidade, mas não eram suficientes para manter eletrodomésticos funcionando Maycon Hoffmann/RPC No entanto, desde 2021, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) determinou que as companhias devem priorizar o menor custo, mas disponibilizando a potência mínima capaz de atender às necessidades básicas, como iluminação, comunicação e refrigeração. Isso significa que o sistema de eletricidade tem que ser o mais barato e funcionar. Por conta disso, a Copel pretende agora construir pequenas usinas de energia solar com baterias em cada uma das casas. O objetivo é armazenar a energia gerada. "Sabemos que a região não é das que possui a maior irradiação solar do Paraná. Por isso, nós apostamos muito no armazenamento dessa energia, utilizando baterias de íons de lítio. O nosso estudo de engenharia avaliou que, aproveitando essa oportunidade tecnológica, nós conseguimos dar uma condição de mais densidade de energia, mais confiabilidade para os sistemas", diz Julio Omori, diretor comercial da Copel. Conforme Omori, a implementação deve acontecer até março de 2026. "Nossa expectativa é que não passe do próximo verão para que a gente tenha todo o sistema funcionando. Então estamos falando aí de março do próximo ano. Nosso prazo é do licenciamento mais seis meses de duração da obra de execução", promete. VÍDEOS: Mais assistidos do g1 Paraná Leia mais notícias no g1 Paraná.

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